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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Comissão aprova piso salarial de R$ 4,5 mil para PMs e bombeiros

17/11/2009 20h27

Brizza Cavalcante


Major Fábio, que mudou o texto original da PEC: Constituição veda a equiparação salarial.

Deputados se reúnem nesta quarta-feira para analisar e votar três destaques apresentados ao texto. Um dos destaques equipara os salários aos do DF.

A comissão especial que analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 300/08 aprovou nesta terça-feira relatório que define o piso salarial de R$ 4.500 para policiais militares e bombeiros. Também foi definido um segundo piso para o primeiro posto de oficial - 2º tenente - no valor de R$ 9 mil.

A comissão se reúne nesta quarta-feira para analisar e votar três destaques. Dois do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), autor da PEC, que reconstituem a proposta original com a retirada do piso e a equiparação com os salários do Distrito Federal. Outro destaque, do deputado Francisco Tenório (PMN-AL), inclui os policiais civis na proposta.

Concluída a análise na comissão especial, a PEC ainda precisará ser votada em dois turnos pelo Plenário da Câmara e depois ser encaminhada ao Senado.

Inconstitucional
O texto original da PEC determina a equiparação dos salários de policiais e bombeiros de todo o País aos proventos recebidos no Distrito Federal. No entanto, o relator da proposta, deputado Major Fábio (DEM-PB), retirou esse dispositivo por considerar que a Constituição veda a equiparação salarial.

Ele observou ainda que não há como saber o valor exato dos vencimentos dos policiais militares no DF, porque as remunerações variam de acordo com a função exercida.

Mobilização
Major Fábio destacou que um policial militar que trabalha no Rio de Janeiro e ganha R$ 900, ao passar para o piso de R$ 4.500, vai poder dar melhores condições de vida para sua família, trabalhando com mais segurança.

"Essa PEC significa a mobilização de todos os policiais militares e bombeiros do Brasil", disse Major Fábio, que percorreu quase todas as capitais do País e viu "um movimento ordeiro como é característico dos policiais militares e dos bombeiros militares".

Fundo único
Faria de Sá, que vai tentar aprovar seu destaque na quarta-feira para reverter o texto, lembrou que os salários do DF já são pagos pelo Governo Federal, por meio de um fundo, que na sua opinião deve ser ampliado para todo o País.

O parlamentar argumenta ainda que a remuneração adequada é a melhor forma de acabar com os bicos de policiais e bombeiros e garantir a esses profissionais o direito de se capacitar e ficar mais tempo com sua família.


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terça-feira, 17 de novembro de 2009

PEC-300 Votação hoje na Comissão Especial

Hoje, dia 17 de novembro (14:30 Hs), a PEC 300 será votada pela Comissão Especial. O relator Major Fábio (DEM-PB) apresentou substitutivo que prevê piso salarial de R$ 4,5 mil aos policiais e bombeiros militares.


A idéia é evitar a vinculação direta desse piso com os salários dos Policiais e Bombeiros Militares do Distrito Federal, o que estava previsto no texto original da PEC 300. Para o relator, essa vinculação é inconstitucional.

Depois de passar pela comissão, a PEC ainda precisará ser votada pelo Plenário. da Câmara Federal Para após ser enviada ao Senado Federal.
Atualize-se aquí: http://www.pec300.com/index.html

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Desabafo do Capitão Marcos Vinícius

A AOPMPE aguarda o encerramento da apuração, para que sejam adotadas as providências legais cabíveis, relativas a injúria, calúnia, difamação e abuso de poder, contidas no relato abaixo:


Tudo ocorreu por volta das 22:00 horas, minha filha estava conversando com o namorado em frente ao portão, avisei que já era hora de entrar, ela se despediu e entrou, mas não se recorda se fechou o portão a chave ou apenas deixou no trinco.
Em seguida fui para a cozinha onde minha esposa já se encontrava e minha filha foi tomar banho no nosso quarto, nesse momento escutei uma batida no portão e de onde estava não tinha visão da entrada da casa, quando me virei e olhei para a porta de acesso a sala avistei dois homens encapuzados, o primeiro já no meio da sala de jantar, de arma em punho apontando para mim e o segundo logo atrás.
Eles já foram avisando para não reagir e perguntando quantas pessoas estavam em casa, eu respondi que apenas eu, minha esposa e minha filha, em seguida perguntou pelos celulares, e em ato continuo nos conduziu para o quarto do casal, momento este que minha filha saia do banheiro apenas de toalha, tomei a frente dela e empurrei-a de volta para o banheiro, onde passamos cerca de 5 minutos, em seguida mandaram sair e colocaram duas cadeiras da cozinha no quarto, uma de costas para outra, fizeram minha esposa e minha filha se sentarem e passaram a enrolar fita crepe em volta do tronco delas, depois nos braços e nas pernas, e por fim na boca.

Um dos elementos me conduziu até o terraço onde havia um terceiro elemento, este não usava máscara, o qual passou as determinações que eu deveria cumprir, e caso eu descumprisse alguma delas a minha esposa e minha filha morreriam. Ele determinou que eu recolhesse todas as armas disponíveis do quartel e numa quantidade satisfatória; não avisasse a ninguém sobre o ocorrido; depois de uma hora da minha saída eu deveria determinar que as viaturas que realizam os bloqueios nas estradas fossem deslocadas para as três principais entradas da cidade, deixando apenas livre a saída para o estado do Ceará; me entregou um celular deles e avisou que eu deveria apenas atender as ligações e mais nada, caso descumprisse tal ordem eles matariam minha esposa e minha filha; por fim determinou que eu deveria estar na via principal da cidade do Juazeiro do Norte - CE as 04:00 horas da manhã, se me atrasasse eles matariam minha esposa e filha, em seguida mandou me vestir, já que eu me encontrava apenas de bermuda.

Todo esse diálogo ocorreu sem nenhum sinal de nervosismo, falta de controle ou agressividade por parte desse terceiro elemento, o que me deixou ainda mais assustado porque isto sinalizava que o grupo sabia exatamente o que estava fazendo, e não se tratava de amadores. quando eu terminei de colocar a roupa pedi a um dos elementos encapuzados que deixasse falar com minha esposa e filha para acalma-las, no que fui atendido, depois disso segui em direção ao meu carro completamente atordoado, e o terceiro elemento ainda falou o seguinte: "não se enganem, a organização é maior e muito bem estruturada do que vocês imaginam, você não sofreu um acidente? (referindo a minha fratura da perna), isto já deveria ter acontecido a mais tempo, você sabe que aqui residem três oficiais com família, só que um é de baixa patente e não nos interessava, o outro não tem a importância que você tem, tentamos realizar em outra cidade mas nenhuma oferecia o que Salgueiro ofereceu ( o oficial de baixa patente é um tenente e o outro oficial é um capitão desmoralizado que trabalha aqui, as condições que ele se referiu eu acredito ser a posição geográfica de Salgueiro e a população flutuante na ordem de 15.000 pessoas devido as 4 grandes obras que hora ocorrem no município), em seguida ele falou que nós não podíamos dar segurança nem a nós próprios nem as nossas famílias e mandou eu ir porque meu tempo já estava contado, quando saí de casa avistei um quarto elemento dentro de um Golf prata modelo novo de cor prata, mas não consegui visualizar detalhes de sua fisionomia, apenas que usava bigode.

Nesse momento eu tinha certeza de que não mais voltaria vivo e que a única que me restava era fazer o possível para salvar minha esposa e minha filha, saí completamente descontrolado e sem nem que nem porque acabei no centro da cidade, onde parei o carro e pensei:"Meu DEUS o que é que eu estou fazendo aqui?" de pronto segui até o batalhão e quando cheguei na minha seção encontrei o Sd Barros e o chamei para uma missão, desloquei-me até a reserva de material bélico e chamei o Sd Feitosa que era o armeiro escalado naquele dia e determinei ao mesmo que pegasse o livro de armamento dos oficiais, em seguida fomos até os destacamentos de Parnamirim, Terra Nova, Serrita e quando passava por Salgueiro recebi a primeira chamada dos bandidos procurando saber como estava o andamento das coisas, tendo respondido que ainda estava providenciando, fim da ligação, passei direto para a cidade de Verdejante e retornei para a sede do batalhão onde recolhi as armas restantes.

Terminada esta parte eu coloquei todo o armamento na mala de meu carro e, na saída, relatei o que estava acontecendo aos dois soldados, tendo o Sd Barros se oferecido para ir comigo, o que de pronto neguei, uma vez que tinha a certeza de que seria morto após a entrega das armas, desloquei-me com destino à cidade do Juazeiro do Norte - CE, quando percebi que não havia combustível suficiente para fazer este percurso em tempo hábil, parei no posto Brasil e neste momento recebi segunda ligação, desta vez ordenaram que seguisse em sentido oposto ao que havia sido informado no início (em vez de ir ao norte deveria seguir agora para o sul), até uma estrada vicinal após a serra do boi morto, depois de concluir o abastecimento segui de imediato para o local determinado onde em lá chegando avistei dois veículos, o Golf do início e um outro, provavelmente um Corolla de cor escura, azul ou preto, estacionados um de frente ao outro, sendo que o Golf estava estacionado primeiro e o Corolla atrás deste, na minha chegada fui logo retirado do carro e colocado na parte de trás, enquanto 4 elementos faziam a retiradas das armas do meu carro e colocavam no Corolla, assim que terminaram me jogaram dentro da mala e rodaram comigo por volta de duas horas, entre estradas vicinais e estradas asfaltadas.

Em determinado momento a velocidade caiu muito e o carro tinha certa dificuldade em trafegar até que parou por completo, me mandaram sair da mala e me deram os safanões e me mandaram retirar todos os objetos que eu tinha nos bolsos, inclusive sapato e camisa, enquanto eu tirava recebia alguns chutes, murros e coronhadas, daí mandaram eu correr em direção a caatinga para ver se eu consegui correr ao menos 50 metros sem morrer, nem pensei duas vezes corri e escutei uns seis a oito estampidos, mas fiz uma desbordagem à direita e corri o máximo que pude nessa direção, até encontrar uma estradinha vicinal e em seguida outra maior até sair na pista asfaltada, pedi socorro mas não conseguí, avistei uns trabalhadores do DNIT a cerca de 1 km e me dirigi até eles quando uma viatura da PM passou e me resgatou, em seguida me levaram até o batalhão para me autuarem em flagrante, quando me ouviram decidiram esperar a conclusão dos trabalhos, mas para a minha Corporação eu sou o Senhor das Armas, daí Comandante é só humilhação, mas não tenho me abalado com isso, estou muito triste e magoado com o tratamento que ainda recebo, mas nada que o tempo não cure.

Segue o cronograma aproximado de toda a ação:
21:45 - Chego em casa com minha esposa;
22:00 - Mando minha filha entrar, ela entra mas não tem certeza se trancou o portão de chave;
22:10 - Estou na cozinha com minha esposa e escuto uma batida no portão, verifico e vejo dois elementos encapuzados de armas em punho;
22:15 - Minha esposa e filha estão amarradas e sou levado até a presença do terceiro elemento;
22:20 - Termino de receber todas as determinações e vou colocar uma roupa;
22:25 - Falo com minha esposa e filha pela última vez
22:30 - Último contato com os elementos
22:35 - Chego ao batalhão e reúno os Sd Barros e Feitosa
22:45 - Sigo até os destacamentos parar colher as armas
01:30 - Chego em Salgueiro depois de recolher as armas de Parnamirim, Terra Nova e Serrita
01:30 - Recebo a primeira ligação dos bandidos
01:50 - Recolho as armas de Verdejante e sigo para Salgueiro
02:30 - Termino de recolher todas as armas de Salgueiro e sigo para o local do encontro determinado no início
02:35 - Novo contato dos bandidos modificando o local do encontro
02:50 - Local determinado para deixar as armas
03:00 - Recolhimento das armas e passeio no porta malas do meu carro
04:50 - Sou deixado em uma estrada vicinal, levo uns safanões e me mandam correr na caatinga debaixo de tiro
06:00 - Encontro um estrada vicinal e dela sigo até a BR 428 onde encontro socorro
08:00 - Estou no batalhão pronto para ser autuado em flagrante delito
08:30 - Depois de ouvirem a minha história desistiram de me autuar e resolveram esperar as conclusões dos trabalhos de investigação

Bem, meu Comandante, esta é toda a história, até mesmo porque eu só tenha esta para contar, no mais é confiar em DEUS.
Vale registrar o apoio que recebi de todos os meus amigos, sem exceções, é o que me tem dado forças para superar todo este inferno.
NÃO RECEBI, ATÉ O MOMENTO, NENHUMA MANIFESTAÇÃO DE APOIO OU SOLIDARIEDADE POR PARTE DO COMANDO DE MINHA INSTITUIÇÃO, MUITO PELO CONTRÁRIO, SEQUER PROCURARAM SABER SE MINHA ESPOSA OU FILHA ESTÃO PRECISANDO DE APOIO PSICOLÓGICO OU SE ESTÃO BEM. ESSA É A PARTE QUE MAIS ME REVOLTA.

DURANTE A OUVIDA DO SD BARROS NA DELEGACIA DE POLÍCIA FEDERAL, AO TÉRMINO DAS DECLARAÇÕES DO MESMO, O SR. SECRETÁRIO ADJUNTO, EM ALTO E BOM TOM, PARA QUE TODOS OS PRESENTES OUVISSEM, ESMURROU A MESA E FALOU QUE:"ESTE CAPITÃO EU NÃO COMO A CONVERSA DELE NÃO, ELE ESTÁ DEVENDO, ELE VAI TER QUE DAR CONTA DAS MINHAS ARMAS".

POR ESTE MOTIVO O REFERIDO SECRETÁRIO ADJUNTO, JUNTAMENTE COM O SR. CEL PAULO DANTAS FORAM IMPEDIDOS DE ENTRAREM EM MINHA RESIDÊNCIA DURANTE A RECONSTITUIÇÃO DO OCORRIDO, O PRIMEIRO POR NÃO TER DÚVIDA NENHUMA QUANTO A AUTORIA DO FATO E O EVENTO EM QUESTÃO OBJETIVAVA DIRIMIR POSSÍVEIS DÚVIDAS, E O SEGUNDO POR NÃO TER A MÍNIMA POSTURA EXIGIDA POR UM OFICIAL DE MAIS ALTA PATENTE DE NOSSA CORPORAÇÃO, SENDO ASSIM, AMBOS NÃO SÃO MERECEDORES DE FREQÜENTAR MINHA RESIDÊNCIA, RESSALTO QUE TAL TRATAMENTO SERIA SIMILARMENTE DISPENSADO AO SR. COMANDANTE GERAL E SR. CHEFE DO ESTADO MAIOR, OS QUAIS ESTIVERAM NA SEMANA DO OCORRIDO E EM MOMENTO ALGUM PRESTARAM APOIO OU SOLIDARIEDADE, MESMO QUE MINHA VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL ESTIVESSE SOB DEVASSA, MAS ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO, EU E MINHA FAMÍLIA FOMOS VÍTIMAS DO MAIS DESUMANO TIPO DE MODALIDADE CRIMINOSA.

Eu tenho 22 anos de serviços prestados à minha corporação, tenho muitos processos, mas em nenhum deles consta uma única linha de desonestidade ou desvio de conduta, e todos decorrentes de ato de serviço, estes anos simplesmente foram jogados aos porcos. Antes mesmo de terem me encontrado já existia a ordem para me autuar em flagrante, ainda sem sequer saber se eu estava vivo, baleado ou morto, mas a determinação já circulava para que no momento que me resgatassem me conduzissem para o 8º BPM para ser iniciado o procedimento inerente à Autuação em Flagrante Delito.
Não foi movida uma única guarnição da minha unidade para realizar buscas com o intuito de me localizar, as viaturas foram movimentadas sim, para os pontos de bloqueio exigidos pelas metas desta atual administração da Secretaria de Defesa Social.
A única linha de ação é submeter as pessoas próximas a mim a todo tipo de situação vexatória e que contradizem a Constituição Federal, tais como: ouvidas após as 18:00 horas sem acompanhamento de escrivão ou advogado, com o objetivo de assim forçarem uma suposta confissão.



Faltou ainda registrar FALHAS GRAVES realizadas durante os trabalhos realizados pelo Instituto de Polícia Científica e pelo Comando do 8º BPM:

1 - Não isolaram minha residência, isolaram apenas o quarto onde minha esposa e filha ficaram, local onde eles passaram o menor tempo enquanto estavam dentro de casa, tendo inclusive manuseados alguns aparelhos eletro-eletrônicos como televisão, som, ar condicionado nos demais cômodos da minha residência;
2 - Minha casa é o que podemos chamar de playground do perito criminal, pois é repleta de vidros, metais e porcelanato, o que de certeza deixaria diversas possibilidades de serem encontradas digitais, nem na cadeira onde o terceiro elemento sentou foi periciada, e ela é de alumínio;
3 - Meu carro foi abandonado a cerca de 30 km de onde eu fui resgatado e localizado apenas 1 hora após, nada, simplesmente nada, foi feito para tentar encontrar os bandidos, nem um bloqueio de estrada, nenhuma incursão na área sequer;
4 - Meu carro foi conduzido do local onde foi deixado até a delegacia de polícia de Salgueiro sem nenhum cuidado especial, quando qualquer perito meia boca sabe exatamente que o veículo deveria ser GUINCHADO e não CONDUZIDO;
5 -Não foi movida uma única guarnição da minha unidade para realizar buscas com o intuito de me localizar, as viaturas foram movimentadas sim, para os pontos de bloqueio exigidos pelas metas desta atual administração da Secretaria de Defesa Social;
6 - Desde as 04:00 da manhã do dia 14OUT09, havia efetivo e viaturas dos diversos órgãos de segurança que atuam no município de Salgueiro, estes permaneceram até as 13:00 do mesmo dia sem receber qualquer tipo de determinação ou orientação para atuação objetivando a elucidação do ocorrido, ou, ao menos procurar e/ou encontrar uma linha de ação;
6 - Não foi realizado nenhum tipo de exame de corpo de delito na minha esposa e filha.

Muita coisa poderia ter ajudado a elucidar o ocorrido mas simplesmente foram completamente ignoradas
Coloquei a disposição da justiça meu sigilo fiscal, bancário e telefônico, bem como me submeto em qualquer momento a qualquer tipo de exame de constatação de substância considera entorpecente ou ilegal.

Peço que o Senhor divulgue junto aos AMIGOS este desabafo.
Abração e fique com DEUS sempre


"A HISTÓRIA SEMPRE PRECEDE AO HOMEM"

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Nossos policiais estão sofrendo

Tortura, assédio moral, corrupção: é o que mostra a maior pesquisa já feita nas polícias do país
NELITO FERNANDES - JORNALISTA

A vida de policial no Brasil não é fácil. E raramente dá motivos para se orgulhar. Os salários são baixos, o treinamento é falho, as armas e os equipamentos são insuficientes para enfrentar o crime. Isso, todos sabem. Mas, até agora, pouca gente havia se preocupado em saber o seguinte: O que pensam os profissionais de segurança pública no Brasil. Esse é o nome de uma pesquisa inédita feita com 64 mil policiais em todo o país pelo Ministério da Justiça em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Com 115 páginas, o estudo, cuja íntegra foi obtida em primeira mão por ÉPOCA, mostra, em números, não só quanto o policial brasileiro é despreparado, mas também como ele é humilhado por seus superiores, torturado nas corporações e discriminado na sociedade. O levantamento revela quem são e o que pensam os policiais – e quais suas sugestões para melhorar a segurança no país. Se o diagnóstico feito pelos próprios agentes é confiável, a situação que eles vivem é desalentadora: um em cada três policiais afirma que não entraria para a polícia caso pudesse voltar no tempo. Para muitos deles, a vida de policial traz mais lembranças ruins do que histórias de glória e heroísmo. O PM aposentado Wanderley Ribeiro, de 60 anos, hoje presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Rio de Janeiro, faz parte de um dado sombrio das estatísticas que a pesquisa revela. Como ele, 20% dos agentes de segurança afirmam ter sido torturados durante o treinamento. Trata-se de um índice altíssimo – um em cada cinco. Segundo Ribeiro, em seu curso de formação ele foi levado a uma sala escura com outros recrutas. Os oficiais jogaram bombas de gás lacrimogêneo e trancaram a porta. Do lado de dentro, os recrutas gritavam desesperados implorando para sair. Muitos desmaiaram. “Quando eles abriram a porta, nós já saímos levando socos e chutes e sendo xingados”, afirma Ribeiro. “Tive de fazer tratamento médico porque fiquei com problemas respiratórios.” E qual é a razão desse tipo de “treinamento”? “Eles tratam o policial como um animal, dizem que o PM tem de ser um animal adestrado. Depois, soltam esse animal em cima da sociedade”, diz.
Além da tortura, os policiais são vítimas de assédio moral e humilhações. Em Manaus, um oficial que prefere não se identificar conta que foi impedido de sair do serviço no Dia das Mães. “Eu estava saindo e me perguntaram se eu tinha servido água no jarro do instrutor. Eu tinha esquecido”, diz. “Eles me fizeram passar o dia enchendo um bebedouro de 300 litros com uma tigela onde só cabiam 300 mililitros”, afirma o PM, que publicou num blog imagens de alunos fazendo flexões com a cara virada para um meio-fio imundo.
“A pesquisa demonstra que há um sofrimento psicológico muito intenso. Essa experiência de vida acaba deformando esses policiais, que tendem a despejar sobre o público essa violência”, diz o sociólogo Marcos Rolim, professor de direitos humanos do Centro Universitário Metodista e um dos autores do estudo. “Passamos os anos da ditadura encarando os policiais como repressores e defendemos os direitos humanos, mas nos esquecemos dos direitos humanos dos próprios policiais.”
O levantamento mostra também que casos como o da morte do coordenador do AfroReggae Evandro João da Silva não são fatos isolados, como frequentemente os comandantes procuram fazer crer. Evandro levou um tiro de um assaltante e morreu sem socorro. Um capitão e um sargento abordaram os bandidos e, em vez de prendê-los, ficaram com o tênis e a jaqueta de Evandro, roubados por eles. A corrupção é prática comum na corporação, e os oficiais como o capitão são até mais condescendentes com ela do que os praças. Entre os policiais de alta patente, 41,3% disseram que fingiriam não ter visto um colega recebendo propina. Já entre os praças, o porcentual cai para 21,6%. Chama a atenção o número dos superiores que ainda tentariam se beneficiar da propina: 5,1% dos delegados e 2,8% dos oficiais da PM disseram que pediriam sua parte também, em comparação a 3,7% dos policiais civis e 2,1% dos praças. Paradoxalmente, 78,4% dos policiais consideram “muito importante” combater a corrupção para melhorar a segurança no país.
São números que explicam por que a polícia é tão estigmatizada pela sociedade: 61,1% dos agentes dizem que já foram discriminados por causa de sua profissão. Tanta carga negativa faz com que policiais até escondam sua vida profissional. Tenente da PM do Rio, Melquisedec Nascimento diz que um namoro recente acabou porque os pais da moça não aceitavam que ela ficasse com um policial. “Você só pode dizer que é da polícia depois que a mulher está apaixonada. Se disser antes, ela corre. Todo mundo acha que o policial é um brucutu corrupto. Outro dia eu ia a uma festa e o amigo soletrou para mim o nome da rua: ‘Claude Monet’. Ele achou que só porque eu sou policial não saberia quem foi Monet”, diz ele.
A pesquisa que mostra velhos vícios também revela o desejo de mudança e derruba velhos mitos, como o de que há uma resistência grande dos agentes à unificação das polícias. Apenas 20,2% dos policiais se declararam a favor da manutenção do modelo atual, que mantém PM e Polícia Civil separadas, uma atuando no patrulhamento, outra na investigação. Para 34,4% dos policiais ouvidos, o ideal seria a unificação das duas forças, formando apenas uma só polícia civil, dita “de ciclo completo” – ou seja, encarregada de patrulhar, atuar em conflitos e também de investigar os crimes.
Especialistas acreditam que a polícia unificada ajudaria a melhorar o índice de resolução dos crimes no país. Enquanto no Brasil apenas 5% dos homicídios são esclarecidos, em países desenvolvidos esse número chega a 60%. Polícias integradas evitariam, ainda, a tensão permanente entre as forças e conflitos como os que aconteceram em 2008 em São Paulo, quando civis e militares se enfrentaram, armados, durante a greve.
“O resultado mostra que há uma disparidade enorme entre o que dizem os comandos, algumas associações de policiais, os governos e o que quer a massa dos policiais. Os policiais querem a unificação. Se ficarmos ouvindo apenas as lideranças, estaremos manipulados por alguns grupos e lobbies que querem manter o estado atual porque se beneficiam dele”, diz o ex-secretário nacional de Segurança Luiz Eduardo Soares, coautor do estudo e também de livros como Elite da tropa e Espírito Santo.
A maior resistência à unificação vem dos oficiais da PM. Apenas 15,8% deles defendem o novo modelo de polícia. “Não só temos duas polícias, como também temos duas polícias dentro de cada polícia. A situação dos praças e dos agentes de polícia civil é muito diferente da dos delegados e dos oficiais”, diz Luiz Eduardo. Hoje, um praça da PM que quiser ser oficial precisa fazer concurso. Ao passar, recomeça a carreira do zero. Quem chega a sargento não vira oficial, a menos que concorra também com os civis, fazendo provas. Na Polícia Civil acontece o mesmo. Um detetive que queira ser delegado, hoje, tem de fazer um concurso e concorrer com qualquer advogado que não seja policial. “Esse advogado recém-formado chega às delegacias mandando em agentes que têm 30 anos de polícia e é boicotado. Temos milhares de detetives que são formados em Direito, mas não viram delegados”, diz Soares.
A baixa produtividade da polícia vem, ainda, da falta de treinamento. Pouco mais de 3% dos agentes de segurança tiveram mais de um ano de aprendizagem em cursos. A formação dos policiais tem muito mais ênfase no confronto do que na investigação: 92% deles têm aulas de condicionamento físico, 85,6% aprendem a atirar e apenas 33% fazem técnicas de investigação, enquanto só 39% estudam mediação de conflito. Não se sabe o que é mais espantoso: que 15% de nossos policiais estejam nas ruas armados sem ter feito curso de tiro ou se apenas um em cada três deles saiba investigar.
“A formação é completamente deformada. Sabemos que 95% dos casos que precisam de PM não são de confrontos, mas a polícia continua a ser tratada como se fosse um Exército que precisa estar preparado para a pronta resposta”, diz Soares. Rolim chama a atenção para outro detalhe que mostra a preocupação dos administradores com os músculos, em vez da inteligência. “Na Suécia, um dos critérios para ser policial é ter feito algum trabalho de liderança comunitária. Aqui, ainda usamos pré-requisitos como altura mínima. Na base disso está a ideia de que o policial tem de ser alto e forte.”
O levantamento realizado por Soares, Rolim e pela socióloga Silvia Ramos foi feito com cerca de 10% de todos os agentes policiais do país, incluindo guardas municipais e agentes penitenciários. A pesquisa teve o apoio do Ministério da Justiça e da ONU. Segundo Soares, foram respeitadas as proporções de agentes em cada função e nos Estados, para ter um retrato mais fiel da situação da polícia. Uma situação que Ribeiro define muito bem: “A polícia hoje está doente e coloca a sociedade em risco. Esse modelo já demonstrou que não dá ao cidadão a resposta adequada, e a prova disso está nas ruas todos os dias. É preciso fazer alguma coisa já”.

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