PCC FAZ PAPEL DE POLÍCIA E JUSTIÇA EM SP
Se isso se espalha, o Brasil acaba de se desmoralizar
fonte: Chico Siqueira
Direto de Araçatuba
O Primeiro Comando da Capital (PCC), que já distribui cestas básicas e paga os custos das visitas dos familiares aos detentos, faz agora papel de Polícia e da Justiça organizando "tribunais" paralelos. De acordo com escutas telefônicas da polícia, os líderes julgam, condenam e punem pessoas que desrespeitam as regras da facção ou cometem crimes. Os tribunais, que antes eram exclusivos para militantes e simpatizantes da facção, começam a ganhar simpatia de moradores nas periferias das pequenas e grandes cidades do Estado de São Paulo.
Os tribunais são organizados dentro e fora das prisões por meio de ligações de telefones celulares, em teleconferências ou não. Nas conversas, líderes do PCC ouvem as vítimas, acusados e testemunhas. Eles estabelecem sentenças, que vão desde a advertência a um assassinato com crueldade.
Os dois últimos julgamentos foram em Guaianases, zona leste de São Paulo, e em Araçatuba, a 530 km de São Paulo. Em Guaianases, a sentença resultou na morte de cinco jovens de 18 e 19 anos. Em Araçatuba, a sentença foi pela morte de dois adolescentes; um está desaparecido até hoje.
A preocupação da polícia é que esses "tribunais", que antes eram acionados apenas por integrantes, familiares e simpatizantes da facção, são agora procurados por pessoas sem ligação com o PCC. Comerciantes e moradores de bairros da periferia recorrem à facção quando assaltados ou têm dívidas a receber.
Para manter a polícia à distância, os traficantes da facção recuperam os bens roubados, os devolvem aos donos e ainda organizam "tribunais" para julgar, condenar e punir os culpados, sejam eles do PCC ou não, de acordo com as investigações.
"Nos bairros onde há o domínio dos traficantes, eles não querem a polícia nem a revolta dos moradores, porque senão o tráfico não rende o dinheiro esperado. Por isso é comum eles se fecharem com os moradores, mas isso acontece até mesmo sem ser o PCC", disse o delegado Antonio Mestre Filho, diretor regional do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-5).
Mestre Filho se nega a reconhecer o poder de organização do PCC e alerta para o perigo da exposição da facção na mídia. "Não podemos ver esses quadrilheiros como entidade", diz Mestrinho, embora tenha conhecimento da existência dos julgamentos feitos pelos "tribunais" paralelos do PCC.
"Essas pessoas que não têm ligações com a facção, mas recorrem aos 'tribunais', são vítimas de violência, que não acreditam que a polícia ou a Justiça vá resolver seus problemas", disse o delegado responsável por uma das centrais de escuta telefônica da Polícia Civil no interior de São Paulo, que pediu para não ser identificado.
Segundo ele, está cada vez mais comum ouvir nas escutas casos dessas pessoas que procuram os tribunais da facção. "O PCC agora está julgando até casos de pequenas rixas e até mesmo briga de marido e mulher", disse o delegado. "Isso está entupindo nossas escutas, que cada vez menos captam conversas sobre grandes assaltos e ações do PCC", lamentou.
Como exemplo, ele citou o caso de uma doméstica, que, na semana passada, foi condenada a levar uma surra por trair o marido. O "tribunal" decidiu que o próprio marido poderia aplicar um corretivo na mulher pelo ato de infidelidade. Pelas regras do PCC, ao contrário de crimes que se pagam com a vida, nos pequenos delitos, é o credor ou a "vítima" quem dá a punição ao "infrator", que também é ouvido e dá sua versão, antes de ser penalizado.
A realização dos "tribunais" é facilitada porque nenhum membro do PCC pode praticar um crime, por menor que seja, sem autorização da facção. Com isso, para fazer a cobrança de uma dívida de drogas, por exemplo, o traficante precisa pedir autorização dos superiores e, para aplicar a punição no devedor, precisa convocar o tribunal.
O procedimento é válido para todos os tipos de vacilos. Se for em menor grau - como agressão e pequenas dívidas - o próprio coordenador de bairro, chamado de "disciplina" pode aplicar a pena, mas se é um crime que se paga com a vida - como estupro, homicídio e traição à facção - a punição tem que ser dada a partir da autorização do comando da facção feita por intermédio de um "sintonia", cargo do militante que faz a ponte entre o baixo e o alto escalão da facção.
fonte: Chico Siqueira
Direto de Araçatuba
O Primeiro Comando da Capital (PCC), que já distribui cestas básicas e paga os custos das visitas dos familiares aos detentos, faz agora papel de Polícia e da Justiça organizando "tribunais" paralelos. De acordo com escutas telefônicas da polícia, os líderes julgam, condenam e punem pessoas que desrespeitam as regras da facção ou cometem crimes. Os tribunais, que antes eram exclusivos para militantes e simpatizantes da facção, começam a ganhar simpatia de moradores nas periferias das pequenas e grandes cidades do Estado de São Paulo.
Os tribunais são organizados dentro e fora das prisões por meio de ligações de telefones celulares, em teleconferências ou não. Nas conversas, líderes do PCC ouvem as vítimas, acusados e testemunhas. Eles estabelecem sentenças, que vão desde a advertência a um assassinato com crueldade.
Os dois últimos julgamentos foram em Guaianases, zona leste de São Paulo, e em Araçatuba, a 530 km de São Paulo. Em Guaianases, a sentença resultou na morte de cinco jovens de 18 e 19 anos. Em Araçatuba, a sentença foi pela morte de dois adolescentes; um está desaparecido até hoje.
A preocupação da polícia é que esses "tribunais", que antes eram acionados apenas por integrantes, familiares e simpatizantes da facção, são agora procurados por pessoas sem ligação com o PCC. Comerciantes e moradores de bairros da periferia recorrem à facção quando assaltados ou têm dívidas a receber.
Para manter a polícia à distância, os traficantes da facção recuperam os bens roubados, os devolvem aos donos e ainda organizam "tribunais" para julgar, condenar e punir os culpados, sejam eles do PCC ou não, de acordo com as investigações.
"Nos bairros onde há o domínio dos traficantes, eles não querem a polícia nem a revolta dos moradores, porque senão o tráfico não rende o dinheiro esperado. Por isso é comum eles se fecharem com os moradores, mas isso acontece até mesmo sem ser o PCC", disse o delegado Antonio Mestre Filho, diretor regional do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-5).
Mestre Filho se nega a reconhecer o poder de organização do PCC e alerta para o perigo da exposição da facção na mídia. "Não podemos ver esses quadrilheiros como entidade", diz Mestrinho, embora tenha conhecimento da existência dos julgamentos feitos pelos "tribunais" paralelos do PCC.
"Essas pessoas que não têm ligações com a facção, mas recorrem aos 'tribunais', são vítimas de violência, que não acreditam que a polícia ou a Justiça vá resolver seus problemas", disse o delegado responsável por uma das centrais de escuta telefônica da Polícia Civil no interior de São Paulo, que pediu para não ser identificado.
Segundo ele, está cada vez mais comum ouvir nas escutas casos dessas pessoas que procuram os tribunais da facção. "O PCC agora está julgando até casos de pequenas rixas e até mesmo briga de marido e mulher", disse o delegado. "Isso está entupindo nossas escutas, que cada vez menos captam conversas sobre grandes assaltos e ações do PCC", lamentou.
Como exemplo, ele citou o caso de uma doméstica, que, na semana passada, foi condenada a levar uma surra por trair o marido. O "tribunal" decidiu que o próprio marido poderia aplicar um corretivo na mulher pelo ato de infidelidade. Pelas regras do PCC, ao contrário de crimes que se pagam com a vida, nos pequenos delitos, é o credor ou a "vítima" quem dá a punição ao "infrator", que também é ouvido e dá sua versão, antes de ser penalizado.
A realização dos "tribunais" é facilitada porque nenhum membro do PCC pode praticar um crime, por menor que seja, sem autorização da facção. Com isso, para fazer a cobrança de uma dívida de drogas, por exemplo, o traficante precisa pedir autorização dos superiores e, para aplicar a punição no devedor, precisa convocar o tribunal.
O procedimento é válido para todos os tipos de vacilos. Se for em menor grau - como agressão e pequenas dívidas - o próprio coordenador de bairro, chamado de "disciplina" pode aplicar a pena, mas se é um crime que se paga com a vida - como estupro, homicídio e traição à facção - a punição tem que ser dada a partir da autorização do comando da facção feita por intermédio de um "sintonia", cargo do militante que faz a ponte entre o baixo e o alto escalão da facção.
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